Rugby: Por que jogar?
Eu nunca fui um cara que gostou de praticar esportes. Até o dia em que minha namorada falou que queria jogar rugby. Ela tinha encontrado um time aqui em Brasília e queria, de qualquer forma, treinar. Eu já tinha visto alguns jogos e um primo meu havia jogado quando morou fora do Brasil. Era um esporte que eu achava legal, mas que não entendia direito.
Pesquisamos na Internet e encontramos o lugar onde o Brasília Rugby Clube treinava e fomos lá nos informar. O treino era quinta-feira e começava nove da noite. Era uma noite chuvosa quando chegamos lá e não tinha uma garota sequer. O time feminino estava desativado por falta de interessadas, uma triste realidade dos esportes amadores no Brasil. Ficamos por ali para ver o começo do treino e esperar a chuva diminuir.
No campo encharcado, cerca de vinte caras – altos, baixos, magros e gordos de várias faixas etárias – corriam e tocavam uma bola oval. Quando os vi treinando naquelas condições, sem ganhar nada para fazer aquilo, decidi que iria dar uma chance àquele esporte. Depois de 15 anos iria praticar um esporte coletivo. No treino seguinte eu estava lá e nunca mais parei.
Outra forma de marcar no rugby é chutando a bola por entre uma trave em forma de H localizada na linha final da área de jogo, onde começa o in-goal (vale três pontos se for chutada de um pênalti ou de bate-pronto, no chamado drop-kick). Logo após o try, o time que marcou tem direito a uma conversão (chute que vale dois pontos).
Para avançar com a bola o jogador pode carregá-la, passá-la com as mãos para o lado ou para trás, ou chutá-la. Para impedir o avanço, os adversários podem segurar o jogador que carrega a bola ou derrubá-lo, o chamado tackle. Essa é a versão verbete-resumo do que é rugby, e falando assim, parece até chato (mas não iria ferir os critérios de imparcialidade do Wikipédia).
Rugby é um esporte antinatural. Você entra num campo de 100 por 70 metros pra tomar e dar pancada nos seus adversários por 80 minutos e depois vai tomar cerveja e confraternizar com eles. É um jogo em que o objetivo é levar a bola pra frente, mas você precisa passar a bola pra trás. Um esporte onde o melhor jogador em campo pode tocar duas vezes na bola e não marcar um ponto sequer.
O espírito de coletividade no rugby é muito forte. Desde as primeiras lições no esporte se aprende que não dá para jogar sozinho. Por ser um jogo de contato onde muitas vezes se sacrifica para que seus companheiros ganhem mais dois metros de campo, aprende-se a confiar na sua equipe. Você sabe que aquele cara que não vai muito com a sua cara nos treinos vai te proteger sem piscar os olhos e você não vai hesitar em tomar uma pancada por ele. Dentro do campo de rugby você não tem amigos, você tem adversários e irmãos.
Depois do primeiro treino, eu pensei em hibernar uns três meses. Terminei não desistindo. Adaptei meu treino e minha dieta para ser mais capaz no esporte, perdi mais umas banhas que estavam sobrando, ganhei músculos. Era a motivação que eu precisava e até hoje dedico meus treinos da academia ao esporte em busca de melhores resultados.
Respeito é bom e mantém os dentes, diz o ditado, mas não é só isso. Rugby é um esporte hierárquico. Se você não respeitar o árbitro, os adversários e seus companheiros de times, você não tem com quem jogar. Idealmente, só o capitão pode falar com o árbitro, o que evita um tanto de confusão que nós vemos no futebol, é claro que – em um esporte onde o contato é intenso e frequente – os ânimos se exaltam e, nessa hora, é o respeito e a hierarquia segura as pontas para não descambar pra briga de rua.
Existem jeito e hora certos de questionar e criticar. Há um ditado francês que diz que o árbitro é como a chuva e o vento, você joga com e você joga contra. Pare de reclamar por qualquer coisa, faça melhor e supere as adversidades.
O rugby é um jogo de muros e portas e você tem que aprender quando é melhor simplesmente procurar as portas, ou evitar aquele cara enorme de 120 quilos, e quando é necessário escalar os muros.
Link YouTube | Nada mais interessante que lances de rugby em câmera lenta
Eu não sabia perder. Ainda não aprendi, mas o rugby me ensinou que vitória e derrota são conseqüências da dedicação de quem compete. Você não perde por azar, você perde por falta de esforço. Você perde porque não deu tudo de si no último minuto do jogo, porque deixou de ir ao treino porque estava com preguiça. Nunca jogue a culpa de sua derrota nos outros. Não existe coisa mais mesquinha do que culpar outros por suas falhas, em uma equipe você não ganha nem perde só. Não basta você fazer sua parte bem feita e deixar o resto de lado. Isso serve para vários aspectos da vida. Relacionamento, trabalho e qualquer outro esporte coletivo.
Machucar? Claro que machuca! Mas lesões existem em todos os esportes. Tenho amigos que romperam o ligamento jogando futebol, torceu o tornozelo jogando basquete, saiu com o nariz sangrando de partida de vôlei. Os hematomas e arranhões são comuns e passam a fazer parte da vida do jogador de rugby, mas as lesões sérias são mais raras. Se formos pensar, eu me machuco muito menos que o Paulo Henrique Ganso ou que a Daiane dos Santos, ou que os peladeiros de fim de semana.
O rugby vem crescendo no Brasil nos últimos anos e novos times estão sendo criados. Hoje há maiores investimentos e patrocinadores surgindo e a modalidade de sete jogadores vai estrear na Olimpíada do Rio 2016. Eu acredito que podemos ser grandes em qualquer esporte. Mas o rugby forma mais do que atletas, forma seres humanos de caráter.
Pesquisamos na Internet e encontramos o lugar onde o Brasília Rugby Clube treinava e fomos lá nos informar. O treino era quinta-feira e começava nove da noite. Era uma noite chuvosa quando chegamos lá e não tinha uma garota sequer. O time feminino estava desativado por falta de interessadas, uma triste realidade dos esportes amadores no Brasil. Ficamos por ali para ver o começo do treino e esperar a chuva diminuir.
No campo encharcado, cerca de vinte caras – altos, baixos, magros e gordos de várias faixas etárias – corriam e tocavam uma bola oval. Quando os vi treinando naquelas condições, sem ganhar nada para fazer aquilo, decidi que iria dar uma chance àquele esporte. Depois de 15 anos iria praticar um esporte coletivo. No treino seguinte eu estava lá e nunca mais parei.
Explicação quase britânica
O rugby é um esporte de contato, em equipe e com uma bola ovalada, cujo objetivo é marcar mais pontos que o adversário. Os pontos são marcados carregando a bola pelo campo até apoiá-la no final do campo adversário, numa área chamada de in-goal, é o Try (ou ensaio) e vale cinco pontos.Outra forma de marcar no rugby é chutando a bola por entre uma trave em forma de H localizada na linha final da área de jogo, onde começa o in-goal (vale três pontos se for chutada de um pênalti ou de bate-pronto, no chamado drop-kick). Logo após o try, o time que marcou tem direito a uma conversão (chute que vale dois pontos).
Para avançar com a bola o jogador pode carregá-la, passá-la com as mãos para o lado ou para trás, ou chutá-la. Para impedir o avanço, os adversários podem segurar o jogador que carrega a bola ou derrubá-lo, o chamado tackle. Essa é a versão verbete-resumo do que é rugby, e falando assim, parece até chato (mas não iria ferir os critérios de imparcialidade do Wikipédia).
A trombada
Rugby é um esporte antinatural. Você entra num campo de 100 por 70 metros pra tomar e dar pancada nos seus adversários por 80 minutos e depois vai tomar cerveja e confraternizar com eles. É um jogo em que o objetivo é levar a bola pra frente, mas você precisa passar a bola pra trás. Um esporte onde o melhor jogador em campo pode tocar duas vezes na bola e não marcar um ponto sequer.
O espírito de coletividade no rugby é muito forte. Desde as primeiras lições no esporte se aprende que não dá para jogar sozinho. Por ser um jogo de contato onde muitas vezes se sacrifica para que seus companheiros ganhem mais dois metros de campo, aprende-se a confiar na sua equipe. Você sabe que aquele cara que não vai muito com a sua cara nos treinos vai te proteger sem piscar os olhos e você não vai hesitar em tomar uma pancada por ele. Dentro do campo de rugby você não tem amigos, você tem adversários e irmãos.
E por que o rugby?
Posso dizer que mudei muito por causa desse esporte. Fisicamente, o rugby exige muito do corpo do jogador e minha seriezinha ABC para hipertrofia na academia não dava conta. Eu tinha perdido 40 quilos um ano antes de começar a jogar e, depois de quarenta (sim, agora escrito) quilos, você acha que está ótimo e até dá uma relaxada, mas o jogo é muito dinâmico requer tanto força física quanto capacidade cardiorrespiratória.Depois do primeiro treino, eu pensei em hibernar uns três meses. Terminei não desistindo. Adaptei meu treino e minha dieta para ser mais capaz no esporte, perdi mais umas banhas que estavam sobrando, ganhei músculos. Era a motivação que eu precisava e até hoje dedico meus treinos da academia ao esporte em busca de melhores resultados.
Respeito é bom e mantém os dentes, diz o ditado, mas não é só isso. Rugby é um esporte hierárquico. Se você não respeitar o árbitro, os adversários e seus companheiros de times, você não tem com quem jogar. Idealmente, só o capitão pode falar com o árbitro, o que evita um tanto de confusão que nós vemos no futebol, é claro que – em um esporte onde o contato é intenso e frequente – os ânimos se exaltam e, nessa hora, é o respeito e a hierarquia segura as pontas para não descambar pra briga de rua.
Existem jeito e hora certos de questionar e criticar. Há um ditado francês que diz que o árbitro é como a chuva e o vento, você joga com e você joga contra. Pare de reclamar por qualquer coisa, faça melhor e supere as adversidades.
O rugby é um jogo de muros e portas e você tem que aprender quando é melhor simplesmente procurar as portas, ou evitar aquele cara enorme de 120 quilos, e quando é necessário escalar os muros.
Link YouTube | Nada mais interessante que lances de rugby em câmera lenta
Eu não sabia perder. Ainda não aprendi, mas o rugby me ensinou que vitória e derrota são conseqüências da dedicação de quem compete. Você não perde por azar, você perde por falta de esforço. Você perde porque não deu tudo de si no último minuto do jogo, porque deixou de ir ao treino porque estava com preguiça. Nunca jogue a culpa de sua derrota nos outros. Não existe coisa mais mesquinha do que culpar outros por suas falhas, em uma equipe você não ganha nem perde só. Não basta você fazer sua parte bem feita e deixar o resto de lado. Isso serve para vários aspectos da vida. Relacionamento, trabalho e qualquer outro esporte coletivo.
É violento?
Honestamente, não é violento. É um jogo físico, onde o impacto é freqüente, mas não é um esporte violento. Quem está em campo sabe que haverá contato, sabe que vai derrubar o adversário, sabe que vai cair, sabe que vai doer e se preparou para aquilo. Conhecer seus limites, conhecer as regras e saber o que fazer quando estiver jogando são as melhores formas de se proteger.Machucar? Claro que machuca! Mas lesões existem em todos os esportes. Tenho amigos que romperam o ligamento jogando futebol, torceu o tornozelo jogando basquete, saiu com o nariz sangrando de partida de vôlei. Os hematomas e arranhões são comuns e passam a fazer parte da vida do jogador de rugby, mas as lesões sérias são mais raras. Se formos pensar, eu me machuco muito menos que o Paulo Henrique Ganso ou que a Daiane dos Santos, ou que os peladeiros de fim de semana.
O rugby vem crescendo no Brasil nos últimos anos e novos times estão sendo criados. Hoje há maiores investimentos e patrocinadores surgindo e a modalidade de sete jogadores vai estrear na Olimpíada do Rio 2016. Eu acredito que podemos ser grandes em qualquer esporte. Mas o rugby forma mais do que atletas, forma seres humanos de caráter.